Trevo de 3 folhas. A quarta caiu.

tudo em branco. isto está-lhe na cabeça: por que é que o seu telemóvel vai ficar sem bateria apenas daqui a uns quatro dias? ainda por cima a bateria é de lítio.

A letra A

tudo começa a abrir o processador de texto. ele ouve uma música da moda. mesmo da moda. daquelas que colocam a unha do dedo do pé a marcar o ritmo. lindo. a unha do pé já está zonza. entretanto, ficou sem bateria.

A fotossíntese.

é de natureza. ele está entre caminhos. talvez entre trajectórias. Sim. Pelas compensadas definições, trajectórias é a palavra. os ramos de uma árvore são também um natural reflexo da sua alma. torna a coisa reificada. torna-a mais real, mais digna de trabalho analítico. ele põe-se a imaginar uma árvore e pensou que há quatro categorias de ramos de árvores, independentemente das espécies, formas, cores e cheiros. o cume da árvore é a referência. aqui, ele pensa que o cume é sinónimo do sentimento muito pensando pelos poetas e filmes de hollywood. nestas linhas, ele parte do pressuposto que fazer parte do cume da árvore é o objectivo de qualquer ramo de árvore.

categorias fechadas dos ramos de árvores

ramo de árvore # 1:
ramo que, nascendo directamente do tronco da árvore, nos primeiros tempos após ser categorizado pela árvore como ramo independente, estava no bom caminho para se tornar um ramo do cume. seguiu sempre o compasso do tronco – criador de todos os ramos – fortaleceu-se, cresceu; a meio do caminho, deformou, perdeu vigor, afastou-se dos ramos do núcleo da árvore, e tornou-se um ramo dos subúrbios do dito ser vivo em questão. deformou-se por ter achado que o cume da árvore era o seu destino mais que certo. não nos alonguemos mais na justificação da deformação (para descrições aprofundadas, cf. dostoiévski. recomenda-se o idiota). deformou-se de tal maneira que, agora que árvore cresceu, está no fim da hierarquia: faz parte da base da árvore.

ramo de árvore # 2:
ramo que, tal como o ramo # 1, teve sempre todas as oportunidades de se tornar o mais vigoroso ramo da árvore. este ramo teve uma trajectória exemplar; nunca teve adversidades, esteve sempre protegido dos caprichosos do tronco, tempo e da poluição. ao contrário do ramo um, o ramo dois musculou-se e é o principal ramo do cume da árvore. vive bem e é feliz.

ramo de árvore # 3:
ramo que nunca foi uma aposta do tronco para se tornar ramo do cume. era, aliás, desconsiderado pelo tronco. a sua trajectória parecia traçada desde que nasceu: tornar-se um ramo da base, de retaguarda, que só avançaria quando os restantes ramos tivessem sido dizimados por alguma peste ou bicho. raquítico, frágil, secundarizado, no seu início. por ser subalterno, era transparente. na luta diária por espaço entre os ramos (todos querem estar na melhor posição para conseguir a sua hipótese de ser um ramo do cume da árvore), o ramo # 3 foi tão esmagado, mas tão menosprezado, que com o peso dos outros ramos – os tais que estavam na luta pelo cume – conseguiu ficar exposto à luz solar. Foi-se nutrindo, ganhando vigor e espaço entre os demais. o rótulo de secundário que colocara, fez com que o tronco não reparasse na importância que o ramo # 3 assumiu na sustentação da sua árvore. o tronco só se apercebeu do ramo # 3, quando este se juntou ao ramo 2 no cume da árvore. parece que ser transparente foi o seu trunfo.

ramo de árvore # 4:
pouca história há para narrar. Irmão de criação do ramo # 3. não teve o engenho de ficar exposto à luz solar. traçou a sua trajectória: ser ramo de base até morrer. diz-se que são ramos muito bons para os cucos fazerem ninhos.


mas esta árvore tem raízes num parque urbano. vive colada a outras árvores. a vegetação é tão densa que faz com que o tronco de uma árvore pareça (seja?), também, um ramo de outras árvores que vivem nas redondezas. o tronco virou lenha para lareira. ele pensou que isso é tramado.

Sou um pequeno príncipe.

Ele anda a pensar. muito. ele pensa que este muito pensar tem um significado. parece-lhe que o pensamento começou a desvincular-se da forma como ele se pensa. vai-te foder é isso que ele pensa agora. isso mesmo, tu. morre. disse. e. e pensou que se sente muito melhor.

Declaração de interesses.

Isto bateu-lhe à porta da consciência:

[Bewitched, bothered and bewildered - no more]

O presunto mostrou-lhe o mil folhas.

Matemática da vontade.

Vontade e desejo vão ser tomados como sinónimos. Dou de barato que não o sejam. Mas eu sou caro. E apetece-me. Nestas linhas, são sinónimos.

Equação da vontade:

DESEJO DE QUERER MUITO UMA COISA = Às figas que fazemos para ter a coisa a dividir (pela força visceral que essa coisa nos faz sentir para a ter + pelos pensamentos orgásmicos de nos antever com essa coisa + pelas expectativas de essa coisa ser nossa + (pelos pensamentos que temos que mudar alguma coisa em nós para termos essa coisa * pelas sensações que temos que não somos dignos da dita coisa) + pelo nível de idolatração da coisa).

Contas feitas: Acredito mesmo que a coisa deve ser menosprezada. Ela cai-te na sopa, basta ser péssimo na matemática da vontade.

As bolinhas do nada.

Ele sente-se a borbulhar. Talvez seja do acne.

A bondade alheia.

Lhe assombra um desejo. Um desejo de saber que vai viver.

[Era tudo tão simples quando te esperava
tão disponível como então eu estava]
fdsç

A abelha.

Ele esqueceu-se de tudo. Tudo. Vazio. Isso mesmo. Vazio resume a cabeça dele. Não se lembra de nomes, citações que leu, teorias sobre o que leu. Nada. Os nomes cultos, que outrora memorizava sem o saber, fizeram, quase em protesto, um pacto e sumiram-se ao mesmo tempo da memória. Coitado. Ele está nu. Despido. Ele já não se idolatra. Crê em nada. Somente sente. Pensa com a emoção. Sim. Emociona-se pelo pensamento. O culto acabou. Ele sente-se despido. E uma abelha acabou de morrer ao lado dele.

Anatomia da Hedonia.

O umbigo é só uma cicatriz. Será um ready made?

Tratado sobre o Amor.

[ ]
Aprendi a discutir.
Disse.

Hoje.

Hoje. estavas de casaco novo. preto. sob a cintura. couro. sim, acho que era de pele. tive a certeza que ia ser uma noite do passado. disseste com os olhos que a cidade era um lugar pequeno. hoje falámos de nós. eu de mim. tu de ti. eu de ti. tu de mim. o meu fundo dá sentido. cheira a chocolate. um fumo de chocolate. percebo que tudo se resume à eternidade do hoje. hoje eu fui um pedaço de nós. e aprendemos juntos. e hoje tive a certeza que vamos ser para sempre.

Viver da criação.

Acredito que as pessoas foram feitas para criar ou para viver. Começo achar que fui criado para viver.

O propósito.

Assoam-se-me à alma, quem 
como eu traz desfraldado o coração sabe o que querem 
dizer estas palavras. 
A pele serve de céu ao coração. 
Luís Miguel Nava
Como alguém disse.


Em constante metamorfose. Ele pensa que os textos perdem valor. Logo são colocados no esquecimento.